22 de julho de 2013

O QUARTO

Quero deixar uma palavra que li em um dos meus livros preferidos, Eu disse adeus ao namoro, em que o autor, Joshua Harris, conta sobre um sonho que teve. É um pouco extenso, mas vale muito a pena ler até o final.
Esse trecho é o início do capítulo 7 do livro.
Normalmente eu não compartilho os meus sonhos, mas eu gostaria de falar sobre um que mexeu muito comigo.

Como cristãos, nós “sabemos” certas coisas como “Jesus me ama” e “Cristo morreu pêlos pecadores”. Nós já ouvimos estas frases inúmeras vezes, mas a poeira da familiaridade pode ofuscar a glória destas verdades simples. Temos que tirar o pó e nos lembrar do poder que elas possuem, capaz de transformar vidas.

Um sonho que tive numa noite úmida ao visitar um pastor em Porto Rico me fez lembrar destas verdades. Ele resumia o que Jesus Cristo fez por mim e por você.

Eu o compartilho aqui pois precisamos de nos relembrar da graça de Deus, após um capítulo sobre a importância de lutar pela pureza. Para alguns, inclusive eu, uma discussão so­bre a pureza é um exercício de remorso – ela nos lembra da nossa impureza e das vezes em que falhamos.

Talvez você tenha estragado tudo. Talvez você reflita nas ações passadas e estremeça de remorso. A pureza parece ser uma causa perdida. Este sonho, chamado de “O Quarto”, é dedicado a você.

O quarto

Naquele estado entre estar acordado e estar sonhando, me encontrei em um quarto. Não havia nada que chamasse a atenção exceto por uma parede coberta de arquivos de gaveta com fichas. Eles eram como aqueles de biblioteca que listam os livros por autor ou assunto em ordem alfabética. Mas estes arquivos, que iam do chão ao teto e pareciam não ter fim em cada lado, tinham cabeçalhos muito diferentes. Ao me aproximar da parede de arquivos, o primeiro a me chamar a atenção foi um intitulado “Garotas de quem eu gostei”.

Eu o abri e comecei a passar o olho nas fichas. Rapidamente eu fechei a gaveta, chocado pelo fato de reconhecer os nomes que estavam escritos em cada ficha.
E então sem ninguém me contar, eu soube exatamente onde estava. Este quarto sem vida com os seus pequenos arquivos era um sistema de catalogação da minha vida. Aqui estavam anotadas as ações de cada momento meu, grande ou pequeno, com um detalhe que a minha memória não poderia igualar.

Fui tomado por uma sensação de admiração e curiosidade, acompanhada de horror, quando comecei a abrir arquivos aleatoriamente e explorar os seus conteúdos. Alguns me trouxeram alegria e agradáveis memórias; outros uma sensação de vergonha e arrependimento tão intensa que até olhava por cima do ombro para ver se havia alguém observando.

Um arquivo chamado “Amigos” estava ao lado de um marcado “Amigos a quem traí”. Os títulos variavam de mundano até os mais esquisitos. “Livros que eu li”, “Mentiras que contei”, “Conforto que ofereci”, “Piadas de que eu ri”.

Alguns eram até hilariantes na sua exatidão: “Coisas que gritei contra os meus irmãos.” De outros eu não pude rir: “Coisas que fiz movido pela raiva”, “Coisas que murmurei contra meus pais.”
Eu sempre ficava surpreso pelo conteúdo. Frequentemente havia muito mais fichas do que eu esperava. Algumas vezes havia menos do que eu desejava. Fui esmagado pelo volume completo de vida que havia vivido. Haveria a possibilidade de eu ter tido o tempo nos meus vinte anos de escrever cada uma destas milhares, possivelmente milhões, de fichas? Mas cada ficha confirmava esta verdade. Cada uma delas estava escrita com a minha própria caligrafia. Cada uma assinada com a minha assinatura.

Quando eu abri o arquivo chamado “Canções que ouvi”, eu me dei conta de que os arquivos cresciam em profundidade para caber o seu conteúdo. As fichas estavam guardadas bem apertadas, e ainda assim ao final de dois ou três metros, ainda não tinha chegado ao fundo da gaveta. Eu a fechei, envergonhado, nem tanto pela qualidade da música, mas pela enorme quantidade de tempo que eu sabia que aquele arquivo representava.
Quando cheguei a um arquivo chamado “Pensamentos Impuros”, senti um frio correr pelo corpo. Abri o arquivo apenas uns dois centímetros, sem querer testar o seu tamanho. Arrepiei com o conteúdo detalhado. Me senti mal só de pensar em que um momento como aquele tinha sido registrado.

De repente senti uma raiva quase animal. Um pensamento dominava a minha mente: “Ninguém jamais deverá ver estas fichas! Ninguém jamais deverá ver este quarto! Tenho que destruí-las!”
Com uma fúria insana puxei o arquivo para fora. O seu tamanho não importava agora. Eu tinha que esvaziá-lo e queimar as fichas. Mas ao pegar o arquivo numa ponta e batê-lo no chão, não consegui deslocar nenhuma ficha. Fiquei desesperado e tirei uma ficha, apenas para descobrir que ela era forte como o aço quando tentei rasgá-la. Derrotado e absolutamente desamparado, guardei o arquivo no seu lugar.

Apoiando a testa contra a parede, soltei um longo suspiro de autocomiseração. E então eu o vi. O título dizia: “Pessoas a quem compartilhei o evangelho.” O puxador estava mais brilhante que aqueles ao seu redor, mais novo, quase sem uso. Eu puxei a gaveta e saiu na minha mão uma pequena caixa de no máximo oito centímetros de comprimento. Eu podia contar as fichas em uma mão.

E então vieram as lágrimas. Comecei a chorar. Os soluços eram tão profundos que a dor começava no estômago e me sacudia todo. Caí de joelhos e chorei. Gritei sem constrangimento, por causa da esmagadora vergonha de tudo aquilo. As fileiras de gavetas dos arquivos giravam em meus olhos cheios de lágrimas. Ninguém jamais deveria saber deste quarto. Eu devia trancá-lo e esconder a chave.

Mas então, ao limpar as lágrimas, eu O vi. Não, por favor, Ele não. Não neste lugar. Qualquer um, menos Jesus.

Eu assistia, sem poder fazer nada, enquanto ele começava a abrir os arquivos e ler as fichas. Eu não aguentava ver a Sua reação. E nos momentos em que consegui olhar na sua face, eu vi uma tristeza mais profunda do que a minha. Parecia que Ele intuitivamente ia para as piores caixas. Por que Ele tinha que ler cada uma delas?

Finalmente Ele se virou e me olhou lá do outro lado do quarto. Ele olhou para mim cheio de compaixão nos olhos. Mas esta era uma compaixão que não me deixou irado. Abaixei a cabeça, cobri o meu rosto com as mãos e comecei a chorar de novo. Ele se aproximou e colocou o Seu braço em volta de mim. Ele poderia ter dito tantas coisas. Mas não disse uma palavra. Apenas chorou comigo.

Depois Ele se levantou e voltou para a parede de arquivos. Começando em uma ponta do quarto, ele tirou um arquivo e, de um em um, começou a assinar o Seu nome em cima do meu em cada cartão. “Nãaaaao” eu gritei, correndo em sua direção. Tudo que consegui dizer foi: “Não, não” enquanto tirava a ficha da sua mão. O nome Dele não deveria estar nestas fichas. Mas lá estava ele, escrito em vermelho tão rico, tão escuro, tão vivo. O nome de Jesus cobria o meu. Estava escrito com o Seu sangue.

Ele delicadamente pegou a ficha de volta. Ele sorriu um sorriso triste e continuou a assinar as fichas. Acho que jamais compreenderei como Ele o fez tão rapidamente, mas no próximo instante parecia que Ele fechava o último arquivo e voltava para o meu lado. Ele colocou a sua mão no meu ombro e disse:

“Está consumado!”

Me levantei, e Ele me guiou para fora do quarto.
Não havia tranca na porta. Ainda havia fichas a serem preenchidas.




Para pecadores como você e eu, existe uma boa notícia: Cristo pagou a nossa dívida. Ele cobriu o nosso pecado com o Seu sangue; Ele se esqueceu do passado. A pureza começa hoje. “Portanto, deixemos de lado as obras das trevas e revistamo-nos da armadura da luz.” (Rm 13:12) Reconhecidamente alguns terão mais para deixar de lado do que outros – mais memórias, mais sofrimentos, mais desgosto. Mas o passado não precisa determinar o futuro. Nós temos escolhas neste momen­to sobre como viveremos. Será que vamos colocar o nosso co­ração em Deus e andar em Seus caminhos? “Comportemo-nos com decência,” continua a passagem de Romanos, “…não em orgias e bebedeiras… Pelo contrário, revistam-se do Senhor Je­sus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne.” (Rm 13:13-14)

Nenhum de nós pode se apresentar diante de Deus completamente puro. Todos somos pecadores. Mas independente de quão imundos sejam os trapos da nossa violação, em um momento de verdadeira entrega, o coração voltado para Deus perde a sua impureza. Deus nos veste na retidão de Cristo. Ele não vê mais os nossos pecados, Ele transfere a pureza de Jesus para nós. Então se veja como Deus o vê – vestido de branco radiante, puro, justificado.

Talvez você tenha um momento específico na memória que continua a atormentá-lo, algo que faz com que não se sinta merecedor do amor e perdão de Deus. Não permita que o passado seja vencedor. Esqueça-o. Não fique revivendo aquele momento ou outros como aquele. Se você se arrependeu de todos aqueles comportamentos, Deus prometeu que não mais se lembraria deles (Hb 8:12)

Siga em frente. Uma vida de pu­reza o aguarda.



Super recomendo a leitura desse livro! Eu disse adeus ao namoro, de Joshua Harris, da editora Atos.

Com amor
Pati Geiger

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