9 de novembro de 2014

Era uma vez um lugarzinho no meio do nada...

( Postagem referente ao dia 30/05/2014)

Estreito de Breves
 
  O Estreito de Breves é um lugar muito conhecido na região amazônica, porque serve de ligação à navegação entre os estados do Pará e seus vizinhos, e levamos em torno de 5 horas para atravessá-lo por completo.
   Como o próprio nome diz, o lugar é estreito, a floresta e o rio também. Enquanto navegamos admirando a paisagem belíssima, do nada surgem algumas casinhas ilhadas e isoladas, onde eles não tem um vizinho sequer! Como é típico da região, essas pequenas casas de palafita é feita em apenas um vão para abrigar uma família inteira, e eles não tem acesso a educação, saúde, água encanada e potável, lazer, nenhuma qualidade básica de vida.

  À medida que o navio passava nessa região, ia aparecendo algumas canoas, onde muitas vezes apenas crianças estavam ali dentro remando, algumas sem roupa, outras com pouca roupa, e elas aproximavam a canoa do navio e gritavam pedindo roupa, comida, e como as pessoas que viajam muito de navio já sabem dessa cultura, sempre levam em sacolas algo para doar, e jogam lá de cima do navio, e aquelas crianças estão ali sobrevivendo a correntezas, a marola que o navio faz, ao esforço para apanhar aquelas sacolas, e tantos outros riscos! Essa região parece ser esquecida e desprovida de tudo. Parece que o governo não vê, parece que ninguém sabe da existência deles, ninguém faz nada, e enquanto isso eles vivem ali sem recursos e vulneráveis a todos os tipos de situações. Em alguns trechos, eu notei que as crianças não sabiam falar, elas se expressavam apenas com gritos ou expressões, mas não eram palavras e elas eram crianças na idade de 3-5 anos. Fiquei pensando sobre aquilo, sobre a falta à informação daquelas famílias, que talvez a língua portuguesa já esteja quase extinta entre eles. 
  Avançando até mais próximo das cidades, essas crianças vêm até o navio, e encostam a canoa em um dos pneus ou na barra lateral e sobem até ter acesso ao primeiro andar. Quando eu vi elas fazendo isso, fiquei preocupada, porque é muito arriscado! Enfim, elas vêm para vender açaí, camarão, cupuaçu, e permanecem no navio até a cidade mais próxima, onde elas esperam outro navio descer, e ficam nesse ciclo. Dentro do navio, essas crianças e pré-adolescentes estão muito vulneráveis, principalmente a pedofilia, pois a área do navio que elas ficam por mais tempo é o bar, e onde tem bebida, álcool, drogas, homens e crianças todos juntos, é tenso o clima. Eu tive oportunidade de conversar com uma adolescente dessa região e que vive nessa prática de ir vender nos navios, e ela me contou sobre sua realidade, dificuldades e ela deixou tão claro que busca qualquer oportunidade para mudar de vida, que sua pouca roupa e sensualidade não falaram o contrário...
  Tivemos períodos de intercessão específica sobre esse assunto, combatendo em oração contra a pedofilia e prostituição no meio dos ribeirinhos, porque essa prática é muito comum de se ver na Amazônia, principalmente dentro de navios. Embora eu estivesse ali, com o coração apertado ao ver todas essas coisas, dentro de mim o clamor era mais forte do que tudo, e eu não consegui mais olhar pra aquele povo como antes, mas sim com olhar de compaixão e sede de justiça.

  Foi um lugar que ficou marcado em meu coração e que eu desejo voltar um dia, não apenas passando em um navio, mas poder visitar aquelas famílias e falar o quanto eles são especiais pra um Deus Criador de TODO o universo...