(*Texto traduzido e adaptado)
“O cara branco em uma van”. É assim que um amigo queniano respondeu à minha pergunta: “Como um missionário se parece?”. Até hoje, essa é uma das minhas definições preferidas. Uma adolescente, na mesma sala quando fiz essa pergunta, disse “Meu pai”, em um doce momento. “Meu pai de terno e gravata, no salão de entrada de uma igreja, mostrando fotos exóticas e hashis de comida japonesa.”
Eu conhecia o pai dela, um médico. E ele realmente era assim, aquele cara. Sempre agradável e amável, um verdadeiro discípulo do Mestre. Um “verdadeiro” missionário, a melhor definição que eu poderia dar para um missionário; seria ele. Diria até que ele tinha 10 dons espirituais, mesmo sendo citados 9 na Bíblia, pois ele era tão incrível que era capaz de desenvolver um dom do espírito revelado somente a ele. Ainda assim, a própria filha via-o “como missionário” apenas de dois em dois anos, justamente quando ele estava fora do ‘campo’, em seu país natal, falando sua língua mãe, entre outros cristãos.
Interessante isso, não? Como essa palavra “missionário” é carregada de significados.
Eu também tenho a minha definição para o que é ser “missionário”. Uma definição que não é aquela teologicamente polida e trabalhada, com uma consciência global e local, até étnica. Uma definição que não é aquela atualizada do século 21 que eu diria em um grupo pequeno apenas para ver a reação daqueles que têm um estereótipo ocidental empoeirado.
Não, eu também tenho meu estereótipo empoeirado, enraizado fundo em mim; e, por mais que eu goste de pensar que estou ‘em contato com a realidade’, eu preciso confessar: quando alguém fala de um “missionário”, eu tenho uma imagem que me vem à cabeça.
Eu talvez não diga qual é exatamente essa imagem, mas posso afirmar o seguinte: ele tem uma van.
Minha imagem de “missionário” tem uma origem antiga. Eu adorava quando os missionários vinham à minha igreja. As imagens traziam algo que me fazia imaginar e sonhar com lugares e pessoas distantes, como em uma dessas revistas da National Geographic. Eles sempre contavam histórias sobre ratos, cobras e pessoas que pareciam não conhecer muito sobre Jesus ou talheres.
Era o momento então de compartilharem como nós podíamos apoiá-los (financeiramente e em oração). Os diáconos passavam novamente a sacola (pela segunda vez no culto) e nós ofertávamos a quantia que Deus colocasse em nossos corações. Havia uma fórmula para a coisa toda, que sempre acabava com a mesma fala: “Você não precisa se mudar para um outro país para ser um missionários. Somos todos missionários”.
Então eu saia confuso dali.
Entenda, é uma excelente maneira. Porém, os únicos que falavam isso eram os que, na verdade, tinham se mudado para um outro país. Ou era um domingo de missões, e aí o pastor falava em nome daqueles que tinham se mudado para outro país.
Para mim, a mensagem era clara como lama: “você é também um missionário, não importa onde esteja; mas a gente só vai falar isso em voz alta quando você se mudar. Ou melhor, vamos falar que você é missionário quando os que estão longe vierem visitar, aí diremos que somos todos missionários… só um pouco diferentes”.
Como os parâmetros para “ser missionário” não eram claros, eu baseei meu entendimento na compilação do que as pessoas juntavam para dizer “Esse é um missionário”.
E você também fez isso.
Por isso, eu pergunto: qual a imagem que você forma quando pensa em um “missionário”? Responda com honestidade.De onde eles são? Como eles se parecem? O que estão vestindo? Quantos anos têm? O que eles fazem? Qual a cor da pele deles?
Por isso, eu pergunto: qual a imagem que você forma quando pensa em um “missionário”? Responda com honestidade.De onde eles são? Como eles se parecem? O que estão vestindo? Quantos anos têm? O que eles fazem? Qual a cor da pele deles?
Não se preocupe, esse não é um post para apontar falhas. (Seria como dizer: “Que absurdo você pensar que missionários se parecem com aqueles que você viu anteriormente”.) Pelo contrário, eu aprendi a olhar para meus estereótipos com carinho. É a partir deles que posso começar uma nova ideia; inclusive chegar à chocante conclusão que os estereótipos das outras pessoas a respeito de um missionários são diferentes dos meus.
As outras pessoas têm suas próprias imagens de missionários. Você tem sua própria imagem também. Quando colocamos todas essas imagens uma ao lado da outra, temos uma visão geral e mais clara do todo. Paradigmas começam a desmoronar, suposições são desafiadas, estereótipos são quebradas. Horizontes são expandidos.
Mais do que uma explicação aprofundada em uma definição bíblica (ironicamente, a palavra “missionário” não é citada nenhuma vez na Bíblia), é essa conversa que muda a imagem que temos dos “missionários”. A conversa é o local onde começamos a ver Deus fazendo coisas que só Deus pode fazer.
Coisas como enviar filipinos como guardadores de crianças da realeza no Oriente Médio
e educadores chineses amarem e cuidarem de órfãos norte-coreanos
e professores do Panamá darem aula em uma escola cristã internacional na Jordânia
e professores alemães ensinarem em uma escola cristã no Suriname
e pastores coreanos plantarem igrejas no Brasil
e profissionais brasileiros dirigirem empresas cristãs no Vietnã
e estudantes de Uganda começarem estudos bíblicos em universidades na Tailândia
e educadores chineses amarem e cuidarem de órfãos norte-coreanos
e professores do Panamá darem aula em uma escola cristã internacional na Jordânia
e professores alemães ensinarem em uma escola cristã no Suriname
e pastores coreanos plantarem igrejas no Brasil
e profissionais brasileiros dirigirem empresas cristãs no Vietnã
e estudantes de Uganda começarem estudos bíblicos em universidades na Tailândia
e um médico com 10 frutos do espírito mostrando hashis nos EUA
e, claro, homens brancos no Quênia… e suas vans.
É um mosaico lindo e incrível que ganha vida justamente quando conversamos e falamos sobre isso. É nesse local de conversa que também encontramos as coisas difíceis, coisas que geralmente discordamos. Coisas como teologia, filosofia, estratégia, semântica e definições missionárias.
Um missionário é quem levanta sustento? Ou é quem planta igreja? Ou é quem vive de seu ofício (fazedores de tentas)? Ou quem dirige uma empresa?
Missionário é o que trabalha povos não-alcançados? Ou com os mais necessitados? Ou é aquele que atua na janela 10/40? Ou são os que trabalham com a igreja sofredora? Missões de curto-período contam? E quem é professor? Ou profissional? Ou servo? E refugiados? Ou escravos?
E aquelas pessoas que nunca deixaram sua cidade?Elas são missionárias?
Cuidado, pois essa é uma pergunta carregada de definições.Mas a resposta para todas essas perguntas reside em uma questão: elas estão onde vemos Deus fazendo coisas que só Deus pode fazer.
Então… como um missionário se parece para você?
Não pense, apenas responda: quando você lê a palavra “MISSIONÁRIO”, qual é a imagem que aprece imediatamente na sua cabeça, e de onde ela vem?Sem julgamento. Vá em frente, e se arrisque a responder. É um rico mosaico quando praticamos isso.
(*Texto original: “What does a missionary look like?“)