23 de maio de 2016

Cuidando dos filhos Deles (II)

  Entrei no meu quarto correndo, me sentindo angustiada e me agarrei ao travesseiro. Me peguei chorando porque meu coração foi tocado pelos órfãos... Lembrei de mim mesma!
Fui sarada para sarar outros

  Nasci em um lar cristão, por isso sempre foi comum para mim ouvir que Deus também é um Pai, mas somente com 22 anos de idade foi que eu entendi e recebi minha identidade como Filha.
  Acredito que a coisa mais dolorosa que já ouvi da parte de Deus foi: "-Você não age como filha, você não sabe ser filha." Fiquei chocada com aquilo! Como assim eu não sei ser filha? E entre um turbilhão de pensamentos confusos, Deus começou a cuidar de mim e pouco a pouco eu comecei a concordar com o Senhor quando analisei diversas situações onde Ele não tinha espaço na minha vida... Eu não confiava que Ele poderia cuidar de mim e proteger em situações de risco, embora Ele sempre o fizesse eu continuava desconfiando.
  Eu não conseguia vê-Lo como provedor, porque sempre fui muito independente e passar a depender Dele ainda é algo muito desafiador para mim. Eu não conseguia me sentir mimada e amada ou me sentir segura de que NUNCA seria abandonada. Descobri que muitas vezes minha obediência era por medo de afastá-Lo de mim, e por fim, descobri que não conseguia O chamar de Pai...Tudo sequelas da orfandade! Eu era parte Dele, mas não me sentia como. Não ter tido o amor do meu pai durante toda a minha vida, me fez ter dificuldades para me sentir amada, especialmente por Deus.
  Começou o processo de cirurgia na alma e foi muito doloroso! Me descobrir, começar a acreditar e confiar Nele, aprender a ser filha. Lembro do dia que orei entregando meu coração dizendo que eu queria aprender a agir e ser Filha, e daí começou uma grande mudança na minha vida, como um treinamento. Pela primeira vez em toda minha vida, eu senti as várias facetas do Pai que cuida, que protege, que mima, ama incondicionalmente e NUNCA, nunca me deixa sozinha e não me abandonará jamais. Ainda lembro dos anos que fui órfã, mas não me dói mais; eu encontrei meu Lar e meu Pai, e hoje tenho um nome!

Fragilidade x Rebeldia= Eles só querem receber amor

  Agora estou convivendo e cuidando de muitas crianças órfãs na Tailândia, e como tem sido desafiador! Tenho lembrado muito do Abrigo em Manaus(Brasil), e das crianças de lá. Algumas abertas para dar e receber carinho, outras nem um pouco. Lembro de um garoto que se aproximou de mim no meio do culto na base missionária, e ele não falava comigo, não me olhava, não me permitia sequer passar a mão em seu cabelo, apenas estava ao meu lado, e às vezes esbarrava em mim de propósito e com grosseria. Eu apenas fiquei lendo os sinais que ele me enviava, e na verdade ele queria amor e carinho, só não sabia como receber, e talvez o medo de ser rejeitado o fazia agir daquela maneira, mas no final eu ganhei um abraço rápido e meio bruto... São características próprias de órfãos: se apegar demais quase que implorando amor, necessitar de muita atenção, alguns agem de maneira mais ousada quando se permitem ser tocados, abusados, só pra se sentir desejados por alguém. Outros agem totalmente no extremo da rebeldia, não sabem ser submissos, amáveis, e assim como não sabem ser, não sabem receber amor também, mas na verdade é tudo medo de rejeição.
  Aqui não é diferente, as crianças têm essas características também, e muitas vezes é muito contraditório, difícil de entender por que alguém que apenas deseja amar e se sentir amado não consegue...Mais uma vez lembro de mim, e de todas as vezes que eu errei por não saber como demonstrar amor. Lembrei do longo tempo que levei até deixar o meu coração ser completamente inundado pelo amor e paternidade de Deus, e assim como muitas pessoas usadas por Deus para me ajudar e investir tempo na minha vida com toda a paciência, tenho feito também, e por mais difícil que pareça ser lidar com órfãos, eu sei que das minhas feridas podem sair poder para curar aqueles que necessitam ter um encontro de Pai com filho.
Aqueles que mais tem dificuldades para amar, são os que mais precisam de amor!


Cuidando dos filhos Dele (I)




Existem dois tipos de órfãos:
aqueles que os pais morreram
devido alguma situação, e os que
 são órfãos de pais vivos.



  Na infância, a criança é muito dependente da ajuda dos adultos, mas não é só isso, elas são dependentes também da atenção e amor dos pais para desenvolverem sua auto-estima e auto-confiança, e assim terem um emocional equilibrado e saudável.
  Quando não se tem os pais, ou um deles, o emocional da criança é afetado, e por mais que ela tenha outros responsáveis e cuidadores, nunca será o mesmo que ter os seus pais presentes. É como um vazio que não pode ser preenchido e que trará consequências emocionais, sociais e espirituais. 
  A família é algo que nasceu primeiramente no coração do Senhor, e uma das obrigações dos pais é garantir segurança e cuidados aos filhos, então quando isso não acontece, quando esse plano falha, as crianças sofrem muito mais por não terem suas emoções sólidas ainda, e é justamente por isso que Deus se importa tanto com os órfãos, porque sabe o quanto isso vai distorcer a maneira de enxergá-Lo como Pai.


As inseguranças

  Ser órfão é estar vulnerável. É não ter o provedor presente, no caso de faltar o pai, ou o carinho materno, no caso de faltar a mãe. Não ter os cuidados, a proteção, a segurança e o amor das pessoas mais importantes. É não ter a quem entregar o presente nas datas comemorativas como "dia dos pais" ou "dia das mães". 
É ser ferido constantemente pela ausência, e ver pais e filhos almoçando em família, nas férias, caminhando juntos e não poder viver o mesmo. E esse misto de sentimentos vai ferindo a alma, vai trazendo sequelas emocionais e pouco a pouco isso afeta diretamente a forma de enxergar um Deus que se diz Pai.
  Afeta porque é difícil ver Deus como Pai quando nunca se teve um. É difícil chamar alguém de Pai quando essa palavra nunca foi comum pra você. É difícil ser dependente de alguém quando toda a sua vida você teve que aprender a ser independente e tomar sua próprias decisões. É difícil confiar que alguém nunca te deixara, nunca te abandonará. É difícil acreditar que alguém nunca te deixara faltar nada. É difícil confiar quando alguém te promete proteção e cuidados em todos os sentidos. É difícil ser filho quando você não sabe agir como um.
 Insegurança, independência, auto suficiência e desconfiança são bagagens que órfãos carregam e que dificultam a forma de ver Deus como Ele realmente é.

Eles tocam o coração do Pai


  Sim, Deus se importa e muito! Em toda a Bíblia, Deus deixa muito claro o quanto se importa com os órfãos. Nos profetas maiores, nos salmos, na lei que foi dada a Israel, nos diversos livros do Novo Testamento, está cheio de textos falando sobre eles. Não negar ajuda, não explorar, não prejudicar em nada, garantir justiça e manter os direitos, exercer misericórdia, e Ele ainda fala que se um órfão estiver sendo explorado ou maltratado e clamar a Ele, serão ouvidas suas orações.
  Todo esse interesse particular de Deus pelos órfãos revela apenas uma coisa: o desejo do Senhor em ser o Pai que eles nunca tiveram. No livro de 1 João 3.1, ele escreveu: 


 "Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: que fôssemos 
chamados filhos de Deus, o que de fato somos! "

  Ele nos chama de filhos! Jesus nos ensinou a falar com Deus o chamando de Pai. O desejo do coração do Senhor é que entendamos que somos filhos amados, desejados e queridos. Um filho que faz parte do Reino, que tem uma herança a receber, que tem um Pai provedor, cuidadoso, amoroso, confiável e que NUNCA nos abandonará. ainda que a mãe se esqueça, Ele nunca esquecerá. 
João - 14:18  "Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós."
Salmos - 68:5  "Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus, no seu lugar santo."
 Todo o vazio causado pela ausência, somente 
o Senhor pode curar e preencher. 
Alguns podem ter falhado na missão do amor, 
mas Ele jamais falhará.


7 de maio de 2016

Vidas são mais importantes do que coisas

  Em junho de 2014, eu estava no prático da ETED na região amazônica, e eu tive um sonho.
  Sonhei que estava em um hospital simples, de cuidados básicos, e eu estava cuidando de um senhor muito debilitado. Eu sabia que ele era asiático, todos os traços daquele senhor eram de pessoas asiáticas. Eu estava tentando alimentá-lo, mas como o seu rosto estava sujo e com secreções, ele não conseguia comer, então eu limpava com gaze úmida para poder continuar tentando dar comida a ele, mas quando eu terminava de limpar, aquele senhor estava tentando falar algo, mas não conseguia. Ele me olhava nos olhos quase chorando... acho que ele queria me agradecer por estar ali cuidando dele.
  Quando Deus me direcionou para o norte da Tailândia junto com o ministério "Casa do Coração Aberto", eu sabia que iria estar trabalhando no hospital da missão, mas eu não sabia como era o hospital. Poucos dias antes de chegar, recebi um e-mail da médica voluntária me explicando tudo sobre o hospital, e eu lembrei do sonho, lembrei do hospital simples e de cuidados básicos, lembrei do senhor asiático, e eu estava prestes a me mudar para a Ásia e cumprir tudo o que Deus havia me  mostrado naquele sonho. Uau! Mas isso não é tudo... Quando cheguei, fui conhecer o hospital e tínhamos apenas um paciente no mês de abril, e era o paciente do meu sonho. Um senhor de idade, asiático. A médica me contou a história dele: ele chegou aqui totalmente debilitado, não andava, estava fraco e pouco a pouco, ele foi se recuperando até que recebeu alta.

  Eu guardei lembranças muito boas desse senhor. Tive a oportunidade de cuidar dele até vê-lo voltar para casa recuperado. Todos os dias nós caminhávamos um pouco, e uma vez, era de tarde e estava muito quente, ele pegou um chapéu e colocou na cabeça e pegou outro colorido e colocou na minha cabeça. Outra vez, faltando dois dias para ele receber alta, ele me deu um cheiro na cabeça. Eram formas dele me agradecer por estar ali, fazendo companhia, cuidando dele. Não tenho muita certeza se aquele senhor entendeu o que é o cristianismo, mas ele ouviu falar de Jesus e viu cristãos apaixonados por vidas e que largaram tudo pra tocar corações. Aquele senhor, marcou minha vida, pois antes de conhecê-lo pessoalmente, eu orei por ele e por pessoas na mesma situação que eu ainda iria conhecer.
Antes de tudo a oração. 
Primeiro tocamos o céu com a oração, com nossas lágrimas, e então depois nós tocamos vidas com a paixão pelo chamado e a luz do evangelho!

Meu jardim particular...


  Ganhei essa pequena flor de uma das crianças aqui do ministério enquanto cuidávamos do jardim, e imediatamente Deus começou a falar comigo...


  
  As crianças estão de férias, e estamos passando o dia com elas, fazendo várias atividades como: reforço escolar, ajudando nas tarefas de casa, gincanas, discipulado, etc. Esse tempo com elas está sendo muito precioso para mim, pois estou tendo mais contato com elas, participando da vida de cada uma, conhecendo e conquistando seus corações, mas às vezes é árduo. São crianças que vieram de situações de risco, a cultura é muito diferente e o idioma também às vezes não facilita, e discipular essas crianças tem sido um desafio para mim.

  Ontem, enquanto estávamos cuidando do jardim, eu estava pensando no grande esforço que precisamos fazer para recuperarmos o jardim por completo. As plantas estão morrendo devido a seca e nossa área é muito grande, então é um trabalho a longo prazo e que precisa de cuidados diários até estar tudo em ordem e bonito novamente. 
  Quando ganhei a florzinha, Deus falou comigo que essas crianças são o meu jardim! Preciso me dedicar todos os dias, cuidando a longo prazo até vê-las crescendo em seu relacionamento com Deus. Esse é o meu jardim particular que Deus me entregou nas mãos para cuidar.
Pequenos passos muitas vezes são grandes ações!