Texto traduzido e adaptado*
Eu sempre quis ser aquela pessoa de camiseta laranja, escrito: “Voluntário”. Ou a camiseta cinza ou azul da ONU. Cada organização, eu queria uma cor de camiseta diferente.
Eu sempre quis ser a pessoa ali no chão, no campo, entregando água potável às vítimas de um tsunami, distribuindo sacos de arroz para pessoas famintas ou segurando a mão de um órfão que chora a perda da mãe. Eu sempre quis SER realmente as mãos e os pés de Cristo em um mundo que sofre, mais literalmente do que de forma figurada.
Nas trincheiras. Com as mãos sujas de terra.
Erguendo minha própria espada contra a injustiça do mundo. Abraçando com meus próprios braços as crianças esquecidas.
Porém, temos vivido do Sudeste Asiático por aproximadamente um ano. Meu marido e eu temos entendido que por termos nascido como ocidentais com dinheiro e estudos, talvez nunca venhamos a usar uma dessas camisetas que mostram os voluntários das organizações em contato com o povo de um local onde as pessoas estão sofrendo.
Por que, honestamente, as pessoas locais estão mais preparadas a serem as mãos e os pés de Jesus em suas próprias culturas do que eu, uma americana e missionária há um ano. Eles falam a língua local, vivem realidades próximas e possuem um conhecimento intrínseco da cultura que meu entendimento ocidental nunca vai conseguir compreender inteiramente. Assim, as pessoas igreja local são, naturalmente, as melhores pessoas a vestirem essas camisetas.
E isso é algo difícil para eu aceitar.
Por que, de repente, meu papel acaba sendo muito mais de “por trás das cortinas” do que algo na linha de frente, óbvio e claro. E isso causa conflitos porque programar sites em frente a um computador não parece tão inspirador. Levantar sustento para uma organização escrevendo emails não parece tão emocionante, e administrar as finanças de um orçamento com certeza não se equiparam a resgatar uma criança. Ainda assim, essas habilidades, por mais sem glamour ou sem importância que pareçam, elas são umas das únicas que eu e meu marido podemos oferecer.
Na semana passada, li sobre a batalha que o povo de Israel teve a caminho da Terra Prometida (Êxodo 17). Era Josué que estava nas trincheiras desembainhando espada, mas era Moisés que estava no alto do vale com seus braços levantados, garantindo a vitória sobre a batalha abaixo dele. Mas existem ainda dois outros homens, menos lembrados que Moisés ou Josué, Arão e Hur, que literalmente ajudaram Moisés a manter seus braços erguidos — ambos levantados acima da cabeça, um dia inteiro.
E isso me impressionou pessoalmente, porque meu marido e eu viemos para o campo achando que seríamos Josué, o cara com a camiseta da organização, os soldados na linha de frente.
Mas a verdade é que, de diversas maneiras, nós fomos mais necessários como Arão e Hur: servindo de maneira pouco ‘emocionante’, silenciosa e discreta, segurando os braços cansados de algum cristão local.
Acredito que o motivo dessa ideia ter me incomodado nos últimos meses é porque vim para o Sudeste Asiático com um pouco daquele “complexo de herói” ou “complexo de Salvador”. Eu cruzei os oceanos porque assumi a ideia de que eu tinha as respostas, as habilidades e recursos que essas pessoas precisavam.
Mas eu estava errada.
E agora me pego pensando em quanto o meu ministério foi motivado por uma ambição interesseira, pensando em quanto o meu “amor ao próximo” foi envolvido por uma expectativa dramática de emoção e romantismo.
E isso é difícil de admitir. É difícil admitir que eu talvez tenha servido com um interesse pessoal. E, humildemente, ainda acredito que isso acontece. Porque o amor verdadeiro pelos órfãos não se importa com cargos, reconhecimento ou emoção. E porque o cuidado verdadeiro pelos mais desfavorecidos não tem interesse em tapinhas nas costas ou a cor da camiseta que você usa.