27 de abril de 2016

POR QUE BUDISTAS NÃO ENTENDEM JOÃO 3:16?

 Na sala de aula, a resposta foi unânime: João 3:16!
“Mas não poderia ser outro versículo?”, perguntei. Sem hesitar, um aluno respondeu: “Sim, poderia, mas esse é que mais usamos”. A pergunta feita a uma turma de missões transculturais para membros de diversas denominações foi qual versículo eles mais usavam em evangelismo. Mudei o contexto: “E se vocês estivessem num país budista no Sudeste Asiático, qual passagem bíblica usariam para explicar a mensagem do Evangelho?”. Depois de uns minutos de silêncio, todos mantiveram a resposta: “João 3:16!”. Repeti a mesma pergunta em diversas cidades pelo Brasil e a resposta era quase a mesma.
Agora imagine o contrário. Um missionário budista tailandês chegou ao Brasil, começou a aprender o português, e depois de um tempo se relacionando com as pessoas de sua comunidade, diz: Só existe salvação por meio do Dharmma. O deus criador é avijja. Buda ensina que precisamos eliminar o Dukkha de nossas vidas, compreender o vijja, entender a lei do carma, escapar do ciclo do samsara e alcançar o Nirvana. Milhares de pessoas no mundo tem saído do caminho da ignorância através desde nobre caminho. Vocêtambém quer segui-lo?
Coçadas na cabeça, modo de compreensão ativado. Mesmo assim muitas pessoas possivelmente não entenderão o significado da mensagem do missionário budista. Dharmma, avijja, dukkha, samsara, são palavras que não existem na língua brasileira. Para compreendê-las, seria necessário buscar seu significado nos ensinos budistas originais, e ainda assim, a compreensão seria limitada, pois trata-se de uma cosmovisão e padrão de pensamento diferente.
Similar situação de estranhamento e confusão sente um budista em muitos países na Ásia ao dialogar com missionários cristãos estrangeiros, incluindo brasileiros, e até conterrâneos que são cristãos locais. Ainda que faladas na língua do receptor, aquelas palavras contidas no “plano de salvação” como salvação, justificação, expiação, pecado, sacrifício na cruz, redenção, além dos conceitos que entendemos sobre amor, graça, relacionamento com o Deus criador, soberano e pessoal são incompreensíveis para os budistas asiáticos no seu contexto cultural. Sim, incompreensíveis! Em alguns casos, tais palavras nem existiam na língua nativa e foram inventadas, pois não havia uma construção cultural entre eles que atribuía o mesmo significado nas culturas judaico-cristãs ocidentais.
E é justamente neste ponto que existe um grande problema. Sem uma adaptação cultural e clara transmissão pelos comunicadores, neste caso cristãos – como você, eu, um outro estrangeiro e até mesmo um cristão asiático – a mensagem simplesmente não é compreendida. Assim, o que deveria ser a chegada das Boas Novas, torna-se Más Novas. Como assim más? Veja, por exemplo, como um budista tailandês interpreta João 3:16.
Interpretação budista de João 3:16
Na década de 60, Wan Petchsongkram, um monge tailandês experiente, teve um encontro transformador com Cristo. Ele, que fora um líder espiritual budista por oito anos e passou nos mais rigorosos testes no sistema de ordenação de monges, agora era um novo seguidor de Cristo. Habituado aos estudos e com muita sede de entender mais a Palavra de Deus, começou a estudar avidamente a Bíblia.
Uma vez ciente da forma como os missionários estrangeiros estavam comunicando o evangelho, Petchsongkram fez uma série de alertas de que muitos dos termos comunicados eram incompreensíveis para povo local, quase 90% budista theravada[1]. É de seus escritos que tirarmos a interpretação de como os budistas tailandeses entenderiam João 3:16 (BOON-ITT, 2007).
Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crênão pereça, mas tenha a vida eternaJoão 3:16
Deus
A tradução usada para a palavra Deus em tailandês e nas línguas das nações influenciadas pelo budismo como China, Mongólia, Taiwan, Laos, Mianmar, não transmite a ideia que um cristão ocidental automaticamente possui: Deus, único, criador, todo poderoso, onipotente, amoroso, gracioso, misericordioso e santo. O fundador do budismo, ao reformar ideias e crenças hindus, rejeitou a ideia de Deus ou uma divindade absoluta, muito menos relacional. Em suma, Buda pregou que Deus não existe.
Quando a palavra Deus é escutada por um budista que não conhece o evangelho, na maioria dos casos, ele vai relacionar Deus a um deva, ou seja, um ser superior aos homens com poderes sobrenaturais, que está também dentro do ciclo da samsara (roda da vida), buscando liberação do sofrimento para alcançar o nirvana.
Na crença budista tradicional, apesar de Buda não ser crido como Deus, ele é visto como alguém acima dos devas, logo seria superior a Deus.
Amou o mundo
Atribuir uma personalidade a Deus e o descrevê-lo com um ser que “ama” ou se “ira”, comunica um ser inferior a um budista estudado. Desta forma, a mensagem do Evangelho seria vista como inferior e que não compreende a verdade a cerca da vida e do universo.
Dentro deste exemplo, na Tailândia, o cristão usaria a palavra “mettã” para amor, contudo existe um ditado em tailandês que diz: “o perigo surge daquilo que amamos”.
Uma das quatro nobres verdades do budismo é que deve-se eliminar tudo o que causa sofrimento. No pensamento clássico, o amor deveria ser eliminado, pois leva ao apego, que resulta em sofrimento.
Deu seu filho unigênito
Um budista, em geral, fica horrorizado com a história da crucificação de Cristo. Eles entendem que o carma é a lei inescapável das causas e efeitos que acontece na vida de cada ser. Desta forma, por ter sido crucificado, Cristo deve ter cometido o mais grave dos atos na vida passada para ter sofrido de tal maneira. Budistas compreendem a cruz como a doutrina mais desprezível.
Vida eterna
Seria ficar preso eternamente na samsara ou a roda da vida, ciclo de sofrimento em várias encarnações, condicionadas pelo carma, que os budistas buscam justamente escapar para alcançar o nirvana, ou seja, o estado de libertação fora do ciclo da samsara onde há ausência total de sofrimento.
Perigos e oportunidades: construindo um novo paradigma missionário
E agora? O que comunicamos como Boas Novas, pode ser recebido como Más Novas por muitos budistas, gerando muita resistência ao cristianismo, e o pior, ao Evangelho, pelo povo local. Há 40 anos Petchsongkram afirmou categoricamente: “A igreja da Tailândia atual precisa absolutamente aprender a comunicar a sua fé de forma inteligível e em termos convincentes”. Não somente eles, mas nós missionários brasileiros, assim como qualquer outro cristão estrangeiro servindo entre os budistas, também precisamos aprender a comunicar o Evangelho para eles.
Registros na Tailândia revelam que pioneiros, como os missionários americanos presbiterianos, levaram mais de cem anos para perceber que careciam de compreensão do pensamento religioso-filosófico tailandês e da construção histórica.
“Só na década de 1950 é que eles começam a perceber que entender a religião tailandesa, o budismo em particular, seria importante para as suas atividades. Essa percepção foi tida por poucos missionários e veio tarde demais, conseqüentemente, a comunidade cristã tailandesa foi deixada sem pensamentos substanciais e sem literatura para a continuação da proclamação apologética missionária” Pongudom (1979), abstract IV
Mesmo depois de 165 anos de evangelismo feito por protestantes, o percentual de cristãos professos chegou a somente 0,6% em 1980, constatou Maen Mejudohon, pesquisador evangélico tailandês. Ele estudou as estratégias missionárias do século 19 até o presente e concluiu que a eficácia era seguida de métodos de testemunho culturalmente apropriadas e avisa:
“Eu creio que a igreja cristã na Tailândia é vista como violadora dos valores culturais e religiosos de reciprocidade e harmonia por usar métodos de evangelismo agressivos, e agora, é privada da oportunidade de iniciar um diálogo sobre o evangelho”. (Mejudhon, 1997, p. 1 )
Desta forma, Mejudhon desafiou missionários a mudarem sua atitude e a acharem pontes de contato com a cultura local, com os valores religiosos, e a estudar o budismo em sua forma mais pura a fim de achar e reconhecer as expressões populares e o impacto que ele tem no dia a dia da vida e cultura dos tailandeses. Cristãos e missionários que não estudarem a cultura tailandesa e o budismo ficarão frustados quando testemunharem sobre Cristo.
Vocês devem estar pensando: por que isso não foi feito antes? Em termos simples, o motivo foi a influência do paradigma colonialista nas estratégias missionárias, de essência impositiva. Neste caso, estudar o budismo para compreender a cosmovisão local, para contextualizar o evangelho e para se relacionar com o local, não era uma máxima. O importante era fazer com que os locais pensassem como os missionários.
David Bosch, notável missiólogo sul-africano, defende que “o empreendimento missionário moderno em sua íntegra está tão contaminado por sua origem no colonialismo ocidental e sua estreita associação com ele, que é irremediável; temos que encontrar uma imagem completamente nova hoje” (BOSCH, 2002, p.617). É esse novo caminho da comunicação intercultural, firmada na verdade absoluta da Palavra, que precisamos buscar.
Este modelo pós-colonialista de missões lança um olhar mais atencioso à dimensão antropológica e hermenêutica. David Bosch nos ensina que “vivemos em um período de transição, na zona limítrofe entre um paradigma que não mais satisfaz e um outro que ainda é, em grande parte, amorfo e opaco” (BOSCH, 2002. 439). Mudar um paradigma é anunciar um tempo de crise, e isto representa um perigo e oportunidade, pois muitas perguntas clamam por respostas e muitas “respostas” acossam. Precisamos transpor o modelo anterior, marcado pela encarnação do evangelho culturalmente impositivo e incompreensível para o receptor, durante o colonialismo, por um mais dialógico, culturalmente compreensível, encarnacionalmente relevante e biblicamente assertivo.
Cada vez mais pastores e cristãos asiáticos, nascidos em nações sob influência budista, reconhecem a importância que aprender a comunicar o Evangelho ao seus conterrâneos. O Reverendo Bantoon Boon-Itt e sua esposa Mali Boon-Itt, são respeitados líderes na Tailândia. Ele é a quarta geração dos primeiros convertidos protestantes tailandeses e pastoreia uma igreja na capital Bangcoque. Ainda jovem estudou teologia, fez mestrado em divindade na Ásia, e em quase 20 anos de ministério em seu país e em sua língua, percebeu que os budistas locais pouco ou nada compreendiam da mensagem das Boas Novas que compartilhava. A partir deste momento, ele embarcou num doutorado na Inglaterra, para justamente estudar como estabelecer pontes de diálogos com os budistas, na esperança de ver ondas de pessoas vindo a Cristo na Tailândia.
Vejamos o caso do Rev. Bantoon Boon-Itt e sua família, assim como da maioria dos cristãos locais. Apesar de falaram a mesma língua que os budistas tailandeses e terem nascido e crescido no mesmo lugar, houve uma incorporação gradual de termos e lógicas compreensíveis somente dentro do cristianismo ocidental, e um afastamento do entendimento da cosmovisão budista local, resultando numa comunicação do Evangelho não inteligível e desprezível, como bem observada por Petchsongkram.
Numa perspectiva antropológica, estamos falando de um processo de ocidentalização da alteridade no processo de conversão, que afetou todas as permeabilidades culturais. Por alteridade entende-se a interpretação que uma pessoa efetua de tudo o que permeia, de sua realidade e do outro, a partir do seu contexto cultural e que é vivido sob a pretensão de verdade absoluta (RODRIGUES, 1998). Logo, no caso em análise, a interpretação sobre a realidade feita por um cristão asiático, neste caso tailandês, a partir de seu contexto cultural, tornou-se cada vez mais parecida com a dos missionários ocidentais, e o distanciou da sua cultura local. A consequência foi um grande afastamento da igreja do cerne dos problemas da cultura e de como o evangelho pode realmente transformar aquela realidade no seu mais íntimo, de dentro para fora.
Enquanto morei na Ásia, notei que esta situação se repetia em países como China, Mongólia, Taiwan, Mianmar, Vietnã, Laos, e outros, cujas cosmovisões também foram influenciadas pelo budismo. Esta limitação da compreensão do outro, do modo como ele vê e interpreta o universo que o cerca, não fomenta o respeito cultural, não aproxima as partes e nem constrói bons canais de comunicação (LIDÓRIO, 2014).
O que precisamos hoje é de uma desocidentalização da alteridade da igreja asiática e um resgate da compreensão e respeito cultural nos relacionamentos, evangelismo, discipulado, plantação de igrejas e ações sociais. 

Por Mila Gomides
Site: http://www.martureo.com.br/por-que-budistas-nao-entendem-joao-316/

17 de abril de 2016

Graça que nos ajuda a suportar

  Eu vinha orando tanto pela Tailândia e minha vinda até aqui, planejando, estudando, levantando sustento, etc. Tudo estava sob controle, até Deus dizer basta.
De repente TUDO fugiu do meu controle e começou a acontecer muito rápido. Eu estava até um pouco assustada, claro, nunca é confortável a dependência. Preferimos ser independentes e ter tudo do nosso jeito, nosso tempo. Mas aí eu entendi que tudo tinha saído do meu controle para estar no controle do Deus e eu deveria apenas seguir Seus passos e entrar por cada porta aberta. Em questão de dias, apenas dias, tudo se resolveu, e quando eu me dei conta já estava em solo tailandês!

Estou vivendo o cumprimento de uma promessa!


  • Para que TODA a glória seja Dele!

  Em 2015 Deus havia falado comigo nesse versículo:

"Não será por meio de um poderoso exército nem pela sua própria força que você fará o que tem de fazer, mas pelo poder do meu Espírito. Sou Eu o Senhor quem está falando." ( Zacarias 4.6)

  Deus é Santo e não divide a Glória Dele com ninguém. Eu não posso jamais dizer que fiz isso ou aquilo para vir a Tailândia, ou muito menos dizer que o fulano me ajudou nisso, e o beltrano naquilo. Não! Os créditos são apenas do Senhor. Ele mesmo escolheu e levantou pessoas específicas para me ajudar e abriu portas para que eu entrasse, coisa que em um ano eu fiz de tudo e não consegui. Ele me trouxe até aqui!

  • Os que sonharam comigo

  Durante dias difíceis, vivendo em um deserto onde a maioria  ignorava e se colocava na imposição, Deus me agraciou com a benção de ter por perto poucos, porém que fizeram toda a diferença em minha vida. Eram os menos improváveis, porém foram usados por Deus como bálsamo na minha vida, como pessoas que acreditaram de toda alma, e me incentivaram muito a persistir nessa caminhada até a Tailândia. Muito obrigada por terem sido amigos, anjos, bençãos e sonhadores!
  • Estou chocada!
  Choque cultural? Não! Estou chocada justamente por não estar sofrendo o choque cultural.
  Tudo aqui tem sido MUITO mais do que imaginei! Lógico que a cultura é totalmente diferente de tudo que conheci toda a minha vida, porém é um diferente que não está me chocando ao ponto de trazer confusão ou vontade de voltar para o Brasil. É um diferente onde estou aprendendo novos caminhos e desfrutando desse tempo aqui onde Deus quer que eu esteja agora. Ele mesmo tem me dado graça para me adaptar bem a tudo, e também tem colocado pessoas ao meu lado para me ajudar e facilitar tudo para mim.

  • Honras
  Cada passo de obediência onde honramos ao Senhor, Ele nos honra de alguma forma também.
  Eu passei dias muito difíceis antes de chegar aqui, mas Deus sempre me falava para continuar firme esperando o tempo Dele, pois tudo iria dar certo e também Ele iria me honrar pela minha obediência, e de fato, tenho visto e vivido a fidelidade do Senhor em me honrar. Ele tem cuidado de mim, providenciado tudo, colocado pessoas maravilhosas ao meu lado pra me ajudar e tem me permitido viver situações que nunca imaginei na vida! Só posso dizer...

Valeu a pena esperar e obedecer!

Por que os missionários nunca podem voltar para casa?

Quando um novo missionário chega pela primeira vez no campo missionário, é óbvio onde é a sua casa. É o lugar onde você acabou de sair. É o lugar onde você cresceu, foi para a escola, foi educado, descobriu uma família na igreja, e formou seus relacionamentos mais importantes.  
Mas quando você vive no exterior por muito tempo, uma transição estranha acontece.
O seu país "casa" não parece mais a sua casa. Quando você "vai para casa", algumas das mesmas pessoas e lugares estão lá, mas a vida mudou em sua ausência. Quando você volta para casa, você não pode simplesmente continuar de onde você parou. Você é um visitante. Um estranho. Um hóspede, sem um papel permanente. Seus amigos mais próximos fizeram novos amigos íntimos. Metade das pessoas em sua igreja apenas te conhecem como um item na lista de pedidos de oração. Alguma tecnologia nova, gírias, ou tendência cultural tornou-se estranho, porque você perdeu de acompanhar tudo isso quando foi embora.
No campo missionário, você disse coisas como: "De volta ao meu país ...". Mas poucas pessoas locais de seu país de acolhimento possam estar relacionados com a sua história. Eles ouviram educadamente, mas você sabia que eles realmente não entenderam. Mas está tudo bem.Você se consolou com o pensamento: "Quando eu voltar para casa as pessoas vão me entender."
Mas, curiosamente, as pessoas de sua casa que você tinha certeza que iriam entender .... bem, eles não o fizeram. Agora que você está em casa, você está cheio de experiências e histórias do lugar que se tornou sua segunda casa. Você diz coisas como: "De volta ao meu país de acolhimento ..." Mas, é claro, qualquer história que você diga a eles sobre o seu país de acolhimento é difícil de se tornar comum para eles. As coisas que você fala sobre seu país anfitrião, é recebido com um olhar vazio, ou "Isso é estranho." Depois que seu conto pitoresca é feito, as pessoas voltam a falar sobre a equipe local de esportes, o mais recente na política nacional, ou algo mais que você não tenha pensado muito nos últimos anos. Não é que eles não gostam de você. Eles gostam. Eles estão contentes que você está finalmente em "casa". Mas aqueles que te recebem de "volta para casa" não podem se relacionar com suas experiências "lá fora" naquele país com o nome engraçado cuja pessoas têm nomes ainda mais engraçado (e impronunciáveis).
As pessoas dizem para você: "Não é ótimo estar em casa?" E você pensa: "Sim, um pouco." Agora que você teve alguns de seus alimentos favoritos e visto alguns velhos amigos, há menos razões para ficar "casa". Você começa a sentir falta de todas aquelas coisas sobre o seu país de acolhimento que você veio a amar. Certos alimentos, amigos locais, o papel no ministério que você estava envolvido e feliz.  
O seu país de origem não é mais casa. E, infelizmente, aquele outro lugar no campo missionário nunca realmente será sua casa também. Casa é ambos os lugares, e nem um lugar, ao mesmo tempo.  

Quando em "casa", há sonhos missionários sobre o seu país de acolhimento. 
Quando em seu país de acolhimento, há sonhos missionários sobre o seu país de origem.

Os missionários são sempre preso entre dois mundos. Eles não podem mais se identificar completamente com as pessoas que eles deixaram para trás no país de origem. Mas eles nunca pode realmente se identificar com as pessoas no seu país de acolhimento.

Casa é em todos os lugares. 
A casa é o lugar nenhum.

Mas está tudo bem. Houve outros viajantes nesta estrada.
"Todos estes morreram na fé, sem terem recebido as coisas prometidas, mas tê-los visto e saudado, de longe, e tendo reconhecido que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Para as pessoas que falam assim, deixar claro que eles estão buscando uma pátria. Se tivessem pensado dessa terra de onde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas como é, desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial. Por isso, Deus não se envergonha de ser chamado seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade ". (Hebreus 11: 13-16)
Enquanto aqui na terra, vamos sempre sentir um pouco instável e fora do lugar. Missionários e aqueles de nós que vivem longe do lugar que crescemos podem sentir um pouco mais do que outros. Mas um dia, todos aqueles que confiam no Senhor Jesus Cristo vão finalmente estar em casa novamente.
Fonte (http://www.dahlfred.com/index.php/blogs/gleanings-from-the-field/747-why-missionaries-can-never-go-home-again)

15 de abril de 2016

No dia que eu saí de casa...

Foram exatamente 72 horas de viagem da minha cidade natal até Bandu, que fica localizada em Chiang Rai.
  Saí de casa com apenas uma mala, uma passagem só de ida, um inglês intermediário e 400 dólares.
  Não, você não leu errado. Vim para Tailândia com apenas isso mesmo, só esqueci de citar a FÈ; essa eu tenho de sobra (risos). Fé de que Deus suprirá, fé de que Deus cuidará de tudo. Foi a minha primeira viagem internacional e eu vim sozinha. Estava ansiosa, um pouco nervosa em viajar sozinha com tantas conexões, tantas horas de viagem, para um lugar onde não conheço ninguém, não sei falar a língua... Mas, de fato eu vi a graça do Senhor me alcançando e me guiando em cada detalhe.


  Em uma cidade vizinha chamada Chiang Mai, onde passei uma noite antes de chegar no meu destino final, fui acolhida por um casal tailândes muito simpático e que cuidaram de mim como uma filha. 

Anjos em forma de pessoas

  Quando finalmente cheguei em Bandu, Chiang Rai, e desci do ônibus, eu percebi que não havia ninguém lá me esperando. Era pouco mais que meio-dia, um calor enorme, então juntei minhas bolsas numa calçada, sentei, peguei o número de telefone que eu tinha para contato e tentei ligar, mas meu telefone não estava funcionando como a operadora do Brasil me garantiu que funcionaria. Comecei a orar pedindo para Deus me ajudar e enviar alguém ali para me buscar ou facilitar as coisas para mim, e em poucos minutos uma mulher tailandesa chegou e sentou-se do meu lado e começou a tentar se comunicar comigo nas poucas palavras em inglês que sabia. Ela perguntou se eu estava esperando parentes e eu respondi que não. Mostrei a ela meu telefone sem rede e o número que eu precisava ligar, e imediatamente ela me emprestou o seu telefone e logo em seguida tudo estava resolvido e vieram me buscar. Bom, ainda não tenho certeza se aquela mulher era um anjo que Deus mandou ali pra me ajudar ou se era apenas uma tailandesa que teve compaixão de uma estrangeira...
Fui estrangeiro, e vocês me acolheram (Mt 25.35)
Chiang Rai city

9 de abril de 2016

10 MOTIVOS PARA NÃO SE TORNAR UM MISSIONÁRIO

*Texto traduzido e adaptado
Não se torne um missionário…
…se você acha que vai mudar o mundo.
Em primeiro lugar, ter uma expectativa muito alta de que você pode mudar o mundo acaba sempre te decepcionando. Além disso, é preciso considerar se o seu desejo de mudar o mundo não está se confundindo com o desejo de servir. Um bom teste é: pergunte-se se gostaria de mudar para um país totalmente diferente do seu, em um ambiente bem mais difícil, para apoiar um morador local. Você não seria reconhecido por isso e não teria garantia de ver frutos nesse processo.
Se, sinceramente, sua resposta for “Sim”, então você talvez esteja no caminho. (Não se preocupe, a maioria de nós também achou que responderia “sim”, mas a verdade é que ainda havia muito do “complexo de herói” a ser tratado).
…para se tornar uma pessoa melhor.
Havia um missionário na Jamaica, Craig, que pregava a todo mundo: ao cara rastafari que fumava maconha, aos turistas nas lojinhas de souvenir, ao cara da caixa-registradora… Perguntaram a um amigo dele o que ele havia feito para se tornar um evangelizador tão bom assim. “O Craig? Ah não, ele sempre foi assim. Ele não veio para a Jamaica e se tornou esse cara. Ele já era assim no país dele”.
O Craig desmistifica a história de que, quando você se muda para o exterior, você se torna um super-cristão pregador. O que você é aqui e hoje, você será lá e amanhã.

É claro que uma mudança de ambiente ajuda em certos aspectos, mas isso não significa que de repente você passará de um cristão morno para uma mistura de Apóstolo-Paulo-Com-Madre-Teresa-De-Calcutá apenas porque, de repente, você foi para outro país.
…se você acha que você tem as respostas e os locais não.
Nós, ocidentais, temos calçados estranhos. Na maioria das vezes somos escandalosos e ofendemos com nossa arrogância. Estamos acostumados a olhar para outras culturas e dizer às pessoas como consertá-las, investindo dinheiro em seus ‘problemas’. Todo bom missionário, primeiro ouve. E ouve muito. E ouve de novo. (Não se preocupe. Novamente, é outra coisa que todos precisamos aprender).

…se você não consegue lidar com transições.
Um missionário conta que está vivendo fora de seu país há menos de 2 anos e já se mudou de casa 3 vezes, fez duas longas e grandes viagens, além de ter se aproximado para depois dizer adeus a mais de 15 famílias amadas.

No campo missionário, pessoas vêm e vão. Condições e cláusulas são alteradas, e governos mudam leis sobre vistos. Você descobre que a casa que queria já foi alugada ou que a casa na qual está morando tem ratos. Quando você aceita fazer missões, querendo ou não, percebendo ou não, você está aceitando viver uma vida transitória e cheia de mudanças.
…se você se considera uma pessoa incrível, espiritualmente falando.
Não há maneira melhor de mostrar tudo o que tem de pior dentro do seu coração do que mudar para um país diferente. Sério. Um missionário conta que não xingou mais, chorou mais, ficou mais irritado, teve crise de fé e, de forma geral, se tornou uma pessoa pior, do que nos 2 anos que ficou servindo na Ásia. Pode chamar de “choque cultural”, mas há quem diga que o estresse vivido no exterior empurra para fora todo o lixo convenientemente acumulado durante anos em nossa vida confortável.

…se você acha que viver de oferta é fácil.
Pode parecer, mas definitivamente não é fácil viver mensalmente segurando a respiração e orando para que caia aquele valor cheio do aluguel, sabendo que até esse valor depende da bondade e generosidade de pais, parentes, amigos ou aquela senhora que junta as moedinhas para poder ofertar na sua vida.

E quando sobra um pouquinho de dinheiro? Aí você fica apreensivo pensando em como gastá-lo. “Será que eu posso me dar ao luxo de tomar um capuccino? Será que as crianças realmente precisam ir no parque amanhã? Compro aquela scooter mais confiável –e mais cara –, ou aquela que, “provavelmente”, será OK
Então, o momento de frio na barriga, aquele momento de falar sobre finanças e pedir apoio financeiro pela primeira vez, sentindo que você está importunando sempre as mesmas pessoas, que acabam sendo as únicas pessoas que você conhece — como a vendedora de produtos de cosméticos que fica tentando empurrá-los nos churrascos da família.
Com certeza, tudo isso acaba construindo e moldando sua fé, mas acaba sendo algo que acaba com seu coração, sua finanças, sua auto-estima, sua poupança, seus relacionamentos, seu orçamento, sua diversão e sua liberdade.
…se você não está disposto a mudar.
Flexibilidade é uma das coisas mais importantes ao se mudar para um país estrangeiro. Humildade também. Infelizmente, muitas vezes, essas qualidades não são naturais. No entanto, é possível aprender que quanto mais a gente se apega a um plano e a segui-lo — seja pelo ministério, pela situação de vida, uma amizade, pela organização ou crescimento pessoal — mais dolorido é quando os planos mudam (e eles certamente vão mudar). Aqueles que humildemente conseguem viver de forma mais ‘solta’ são os que conseguem ir mais longe com menos danos colaterais.
…em uma decisão impulsiva, de última hora.
Mudar para uma país do outro lado do mundo, especialmente com uma família e com o compromisso de ficar, não é algo para ser decidido assim, de repente, num impulso. Treinamento é importante. Preparo espiritual, emocional e cultural têm um valor inestimável. Ter um coração voltado a morar em um novo lugar também leva seu tempo para ter raízes completamente aprofundadas.
Então, espere um pouco. Não se preocupe em puxar o freio um pouco e, por favor, não ache que você é mais santo se decidir ir, fizer as malas e partir o mais rápido possível. Isso não são as Olimpíadas e ir para missões de qualquer jeito pode trazer mais estragos do que benefícios.
…para melhorar seu casamento ou educar seus filhos.
Problemas pessoais e familiares vão te acompanhar onde você for. Pior: na maioria das vezes, problemas não resolvidos tendem a aumentar e se tornar piores ainda quando você vai morar em um país diferente do seu. Achar que os problemas ficarão para trás é um dos erros mais comuns, e muitos missionários acabam se vendo em uma situação com problemas maiores ainda sem saber como lidar com eles.
…para impressionar ou ganhar amigos.
É bem provável que, ao se tornar missionário, você conheça pessoas incríveis. Muitas delas provavelmente se tornarão grandes amigos. Porém, existe gente estranha e esquisita em todos os lugares. Viver em um lugar afastado e diferente constrói caráter, te molda em muitos aspectos, mas certamente trará boas surpresas na hora de fazer amigos.